25.4.09

A importância dos clubes de massa no esporte dito amador

Já defendi em recente texto a importância do investimento dos clubes populares no chamado esporte amador - muitos deles, notórios formadores de atletas para delegações olímpicas. Em tempos de crise financeira mundial, os clubes andam bem cautelosos em relação a gastos, mas sempre dão o seu recado em modalidades esportivas de alta visibilidade. No momento, clubes que não são conhecidos por departamentos de futebol, como o paulista Pinheiros, o mineiro Minas Tênis e os gaúchos Sogipa e Grêmio Náutico União, têm bons resultados em esportes como basquete, vôlei, judô e ginástica artística (o Pinheiros, falando nisso, foi o clube com o maior número de atletas na delegação brasileira que disputou as Olimpíadas de Pequim, sendo alguns de seus maiores exemplos o nadador César Cielo Filho e a ginasta Daiane dos Santos). Isso sem falar nas empresas e universidades investidoras em modalidades esportivas coletivas como vôlei, basquete e (exemplificando uma modalidade não-olímpica) futsal, constantemente dando nome a essas equipes.

Porém, os clubes conhecidos pelo futebol ensaiam uma volta aos investimentos em modalidades ditas amadoras. Clubes de massa como Flamengo (atual campeão brasileiro e da Liga Sul-Americana de basquete), Botafogo (que deverá montar um time feminino de vôlei para disputar a próxima Superliga, além de reeditar o basquete e fazer uma equipe de atletismo para aproveitar a pista do Engenhão, estádio arrendado pelo clube), Cruzeiro (que teve seu time masculino de vôlei quase classificado para a final da Superliga, logo na sua primeira participação, além de ter uma forte equipe de fundistas do atletismo) e Corinthians (que montou uma equipe de natação) buscam preencher um forte vazio midiático: a paixão pelos clubes, que sobra no futebol, mas falta um bocado nas demais modalidades.

Houve várias vezes em que os clubes despertaram paixões em esportes que não o futebol - a mais recente foi entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000, no Rio de Janeiro. Os projetos olímpicos de Vasco e Flamengo mobilizaram as diretorias e torcidas dos dois clubes, que mandaram centenas de atletas para os Jogos Pan-Americanos de 1999 e as Olimpíadas de 2000. São memoráveis decisões entre os dois clubes - como no basquete (com o Flamengo derrotando o então invicto Vasco nas finais do Carioca de 1998, e os vascaínos dando o troco na decisão do Brasileiro, dois anos depois - aliás, eram dois timaços: o Vasco era a base da Seleção da época, sendo bicampeão brasileiro e da Liga Sul-Americana, além de ser vice-campeão mundial; já o Flamengo era capitaneado pelo Mão-Santa Oscar Schmidt, o que dispensa comentários) e no vôlei (o Flamengo de Leila e Virna derrotou o Vasco de Fernanda Venturini nas finais da Superliga em 2001, no Maracanãzinho). Depois, veio a conta: os dois rivais gastaram os tubos e acumularam dívidas, que mantêm até hoje.

Atualmente, os clubes de massa parecem ter a consciência de que visibilidade é fundamental, não só no futebol. Tanto que eles procuram patrocinadores exclusivos para essas modalidades. Depois de sofrer atrasos salariais de até quatro meses (condição que superou ao ganhar a Liga Sul-Americana), causados em parte pelo litígio com a Petrobrás, o time de basquete do Flamengo navega em águas mais tranquilas com as altas vendas da camiseta com a sua marca (que serve para quitar parte da dívida) e a assinatura de um novo patrocínio, que manterá a equipe por dois meses, até o fim do NBB, competição cuja primeira fase o Fla lidera. A nova administração do rival Botafogo, ainda que não tenha obtido sucesso no intento de "importar" o time de vôlei do Osasco, anunciou investimentos em várias modalidades como o próprio vôlei, o basquete e o atletismo.

A entrada de times de massa será muito importante para as modalidades. Elas serão mais visíveis, atrairão torcida e patrocínios fortes. E impede, em parte, o constrangimento de vários jornalistas, durante transmissões de competições esportivas, em falar o nome da cidade que o time representa ao invés de seu patrocinador, com medo de fazer merchandising involuntário...

Texto complementar: "Cultura Clubística", de Ricardo Antunes da Costa (30/11/2005)

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