26.4.07

Atraso é ruim. Mas quem nunca atrasou?

Os atrasos nas obras de construção e reforma das instalações para os Jogos Pan-Americanos do Rio são motivos (justos, ressalte-se) de críticas dos especialistas, além de não resultarem em benefícios para a população da cidade, em relação às promessas de melhorias na infra-estrutura - o que pode prejudicar o país numa eventual candidatura olímpica, além de atrapalhar o país na luta para sediar a Copa do Mundo de 2014. Mas isso não pode ser considerado exceção numa grande competição polidesportiva. Pelo contrário: é mais comum do que se imagina.

Os críticos da organização carioca podem citar os preparativos de Pequim para sediar as Olimpíadas de 2008, cujas obras estão quase prontas faltando mais de um ano para seu início, em 8 de agosto do próximo ano. Mas o poderio chinês é algo excepcional, visto que o país mais populoso do planeta cresce econômica e politicamente a olhos vistos. Claro que isso iria influir em excelência na organização, típico de quem quer ser visto como o mais poderoso do mundo no futuro.

Em competições polidesportivas, é comum haver atrasos nas obras de construção. Não é preciso voltar muito no tempo para comprovar isso, uma vez que a busca pela perfeição pode implicar em alguns problemas. As Olimpíadas de 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos, notorizaram-se por ginásios e estádios construídos e/ou reformados às pressas. O Pan de Santo Domingo, em 2003, tinha obras ainda mais atrasadas que o do Rio este ano. E as Olimpíadas de Atenas, em 2004, foram organizadas em cima do laço - a estrutura da cidade só ficou pronta poucos dias antes do início dos Jogos. E eles foram sensacionalmente bem-organizados - o trânsito de Atenas é famoso por ser uma bagunça.

Os operários e organizadores do Pan do Rio (principalmente os primeiros) podem ser considerados vencedores - estão driblando falta de verba e de tempo, burocracia, protestos de todos os lados, condições insalubres... E o resultado desse esforço todo é o conjunto de arenas esportivas, aparentemente, bem acima do nível latino-americano. O Maracanãzinho, por causa de uma trapalhada do governo estadual (que não conferiu as condições financeiras da empresa que reformaria o Complexo do Maracanã, e que iria à falência poucos meses depois do início das obras), perdeu o Mundial de Basquete Feminino do ano passado, que foi para São Paulo. Em compensação, graças ao esforço dos operários, que não páram de trabalhar há meses (três turnos diários de oito horas cada), começa a ficar modernizado, em excelente nível.

A Cidade dos Esportes (nome oficial do Complexo do Autódromo) já terá utilidade após o Pan: a Arena Olímpica do Rio (que sediará basquete e ginástica olímpica) abrigará o Mundial de Judô deste ano, e o Mundial de Futsal de 2008. O Parque Aquático Maria Lenk e o Velódromo terão condições de sediar competições internacionais.

O problema será o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, que corre o risco de ficar sem utilidade após o Pan. A esperança é a confirmação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014 e a reforma (mais uma) do Maracanã para se adequar às normas da FIFA, fazendo com que os clubes cariocas passem a utilizar mais o Engenhão. Além disso, o Troféu Brasil e a etapa GP Rio de atletismo teriam o estádio como sede.

Apesar dos pesares, o "pós-Pan" terá tudo para ter mais prós que contras. Basta nossos dirigentes pensarem direito e com carinho no legado que a competição trará ao esporte na cidade.

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