15.9.12

Entre 2012 e 2016, atenção, expectativa, torcida... e muita cobrança

Encerrados os Jogos da XXX Olimpíada e os XIV Jogos Paralímpicos em Londres, pode-se dizer que a participação brasileira poderia ser melhor nestes primeiros e consolidou sua evolução nestes últimos. Enquanto nos Jogos Olímpicos o Brasil não correspondeu tanto às expectativas levando-se em consideração os altos investimentos do Ministério do Esporte e do Comitê Olímpico Brasileiro, nos Paralímpicos o país dá aos espectadores um grande otimismo para a participação na próxima edição, daqui a quatro anos, quando será o país-sede.

Os atletas olímpicos brasileiros, se não tiveram uma participação considerada pífia (afinal, apesar dos pesares, eles trouxeram o maior número de medalhas em uma edição olímpica: dezessete, três delas de ouro), poderiam ter feito melhor papel, isso é fato. Tivemos excelentes desempenhos em Londres, como a boa fase do judô feminino (que trouxe metade das medalhas brasileiras na modalidade, incluindo a primeira de ouro), do boxe (que trouxe logo três medalhas, o triplo da melhor campanha do país, 44 anos atrás) e do ginasta Arthur Zanetti (primeiro em seu esporte a ganhar uma medalha olímpica entre os brasileiros, o ouro nas argolas). Além disso, vieram o bicampeonato do vôlei feminino e a primeira medalha no pentatlo moderno, modalidade pouco praticada no Brasil. Mas tivemos frustrações em Londres, como os parcos desempenhos em modalidades como atletismo (sem trazer medalhas depois de 20 anos), natação (apenas duas medalhas, uma prata e um bronze, e poucas finais, nenhuma entre as mulheres) e futebol (uma prata entre os homens, sem ver a cor da bola na final contra o México - por sinal, a única seleção ao menos tradicional que os comandados de Mano Menezes enfrentaram nesta Olimpíada -, e a eliminação nas quartas da cada vez mais decadente Seleção feminina, o que reflete a falta de investimentos no futebol feminino no Brasil).

Os atletas paralímpicos, por outro lado, confirmaram a evolução que vem de longo tempo. Apesar de terem conquistado cinco medalhas a menos que em Pequim (42 contra 47), os paratletas brasileiros superaram em cinco ouros seu desempenho de quatro anos atrás (21 contra 16). Os valores individuais continuaram brilhando (como o nadador Daniel Dias e os velocistas Terezinha Guilhermina e Alan Fonteles, entre outros), mas várias modalidades coletivas também tiveram seu valor, como a tricampeã seleção de futebol de cinco e a vice-campeã seleção masculina de golbol. O país conseguiu sua meta de terminar entre os sete primeiros colocados no quadro de medalhas em Londres, o que dá a esperança em terminar entre os cinco primeiros daqui a quatro anos, em casa. Só tem que se preocupar com a renovação dos valores individuais, já que na natação, por exemplo, apenas Daniel Dias e André Brasil - que conquistaram todos os ouros brasileiros na modalidade - tiveram participações de destaque.

No mais, foram duas campanhas bem distintas, é o que se percebe. Se nos Jogos Paralímpicos o Brasil acabou em sétimo lugar (21 ouros, 14 pratas e oito bronzes), nos Olímpicos terminara em 22º (três ouros, cinco pratas e nove bronzes). Pouco surpreendente levando-se em consideração a média de ouros olímpicos conquistados pelo país nas mais recentes edições (os Jogos de 2004, em Atenas, foram a exceção, com o recorde de cinco ouros). Mas ainda é pouco se levarmos em conta que o Brasil sediará a próxima edição olímpica, em 2016. Nos últimos ciclos olímpicos, o país-sede da Olimpíada seguinte costuma fazer boas campanhas - se bem que foram países de tradição esportiva consolidada, como os Estados Unidos em 1992 (37 ouros), a Austrália em 1996 (nove ouros), a Grécia em 2000 (quatro ouros), a China em 2004 (32 ouros) e a Grã-Bretanha em 2008 (19 ouros). A última vez em que o país-sede da Olimpíada seguinte fez uma campanha discreta foi em 1988, com a Espanha: em Seul, os atletas espanhóis conquistaram apenas um ouro, uma prata e dois bronzes (para efeito de comparação, o Brasil ganhou uma prata e um bronze a mais), terminando em 25º lugar no quadro de medalhas. Em compensação, nos Jogos de Barcelona, em 1992, os anfitriões aproveitaram bastante o fator casa: 13 ouros, sete pratas e dois bronzes, com o sexto lugar na classificação final. Nos Jogos seguintes, os de 1996, em Atlanta, a Espanha manteve o pique: cinco ouros, seis pratas e seis bronzes, 13º lugar no final.

O fato de ser o anfitrião, com a torcida a favor, pode ser um trunfo brasileiro no Rio: basta lembrar da campanha nos Jogos Pan-Americanos de 2007. O nível técnico certamente não serve de parâmetro, mas o retrospecto recente conta muito. O que muitos temem, porém, é o excesso de expectativas sobre os atletas, que podem decepcionar muitos se não conquistarem a medalha de ouro. A campanha olímpica brasileira em Londres recebeu críticas por não dar o retorno dos altos investimentos do Governo Federal, do Ministério do Esporte, do Comitê Olímpico Brasileiro e de várias empresas, com direito a aluguel do Crystal Palace para aclimatação e treinamento. Agora, o governo da presidente Dilma Rousseff lançou um plano de investimentos de um bilhão de reais visando colocar o país entre os dez primeiros no quadro de medalhas dos próximos Jogos Olímpicos, e entre os cinco nos Paralímpicos. Sempre há temores quando dinheiro público está sendo investido em algo que dificilmente dará o retorno esperado, ainda mais levando-se em conta a larga história de desvio de dinheiro para meios ilícitos. Fiquemos de olho, portanto.

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