No mais, foram duas campanhas bem distintas, é o que se percebe. Se nos Jogos Paralímpicos o Brasil acabou em sétimo lugar (21 ouros, 14 pratas e oito bronzes), nos Olímpicos terminara em 22º (três ouros, cinco pratas e nove bronzes). Pouco surpreendente levando-se em consideração a média de ouros olímpicos conquistados pelo país nas mais recentes edições (os Jogos de 2004, em Atenas, foram a exceção, com o recorde de cinco ouros). Mas ainda é pouco se levarmos em conta que o Brasil sediará a próxima edição olímpica, em 2016. Nos últimos ciclos olímpicos, o país-sede da Olimpíada seguinte costuma fazer boas campanhas - se bem que foram países de tradição esportiva consolidada, como os Estados Unidos em 1992 (37 ouros), a Austrália em 1996 (nove ouros), a Grécia em 2000 (quatro ouros), a China em 2004 (32 ouros) e a Grã-Bretanha em 2008 (19 ouros). A última vez em que o país-sede da Olimpíada seguinte fez uma campanha discreta foi em 1988, com a Espanha: em Seul, os atletas espanhóis conquistaram apenas um ouro, uma prata e dois bronzes (para efeito de comparação, o Brasil ganhou uma prata e um bronze a mais), terminando em 25º lugar no quadro de medalhas. Em compensação, nos Jogos de Barcelona, em 1992, os anfitriões aproveitaram bastante o fator casa: 13 ouros, sete pratas e dois bronzes, com o sexto lugar na classificação final. Nos Jogos seguintes, os de 1996, em Atlanta, a Espanha manteve o pique: cinco ouros, seis pratas e seis bronzes, 13º lugar no final.
O fato de ser o anfitrião, com a torcida a favor, pode ser um trunfo brasileiro no Rio: basta lembrar da campanha nos Jogos Pan-Americanos de 2007. O nível técnico certamente não serve de parâmetro, mas o retrospecto recente conta muito. O que muitos temem, porém, é o excesso de expectativas sobre os atletas, que podem decepcionar muitos se não conquistarem a medalha de ouro. A campanha olímpica brasileira em Londres recebeu críticas por não dar o retorno dos altos investimentos do Governo Federal, do Ministério do Esporte, do Comitê Olímpico Brasileiro e de várias empresas, com direito a aluguel do Crystal Palace para aclimatação e treinamento. Agora, o governo da presidente Dilma Rousseff lançou um plano de investimentos de um bilhão de reais visando colocar o país entre os dez primeiros no quadro de medalhas dos próximos Jogos Olímpicos, e entre os cinco nos Paralímpicos. Sempre há temores quando dinheiro público está sendo investido em algo que dificilmente dará o retorno esperado, ainda mais levando-se em conta a larga história de desvio de dinheiro para meios ilícitos. Fiquemos de olho, portanto.