Pelo visto, será anunciado em setembro, na Sessão do COI em Lima, que Paris sediará os Jogos
Olímpicos de 2024 e Los Angeles, os de 2028. Na minha opinião, é a melhor
opção. O anúncio de que as sedes de duas Olimpíadas serão anunciadas simultaneamente
(pelo que sei, isso só ocorrera duas vezes: a primeira em 1894, para decidir as
sedes das duas primeiras edições, em 1896 e 1900; a segunda, em 1921, para
escolher quem sediaria em 1924 e 1928) foi, segundo o COI, para cortar gastos –
levemos em consideração que, depois de um período de forte concorrência em que
quase uma dezena de cidades mundo afora se acotovelava para tentar receber as
Olimpíadas (fenômeno que teve seu ápice nos anos 1990 e 2000) devido à
potencial lucratividade, parecemos voltar à época em que poucas cidades
concorriam a sede olímpica (a própria Los Angeles, em 1978, foi candidata única
a receber os Jogos de 1984 e – desnecessário dizer – deu as cartas o tempo todo
para impor as suas regras na organização do evento, fazendo o COI praticamente
seu refém).
A cidade californiana,
aliás, é considerada a grande responsável pela onda de candidaturas que tomaria
conta do movimento olímpico dos anos 1980 aos 2000. O grande sucesso comercial
dos Jogos da XXIII Olimpíada – que geraram lucro, algo inédito na história
olímpica – provocou uma intensa corrida aos milhões de dólares que o status de
sede olímpica poderia gerar. Antes disso, em 1981, apenas duas cidades haviam
se prontificado a receber a Olimpíada de 1988 – a japonesa Nagoia e a
sul-coreana Seul, que seria a vencedora e sediou os Jogos também de forma bem
sucedida, embora não tanto como Los Angeles. Já em 1986, dois anos depois do
estrondoso sucesso americano, nada menos que seis cidades se candidataram a
sediar os Jogos Olímpicos de 1992, e a espanhola Barcelona foi a vencedora. Em
1990, mais seis cidades sonharam em receber a Olimpíada do Centenário, em 1996.
Atenas era a favorita, mas a americana Atlanta ganhou. A concorrência era tão
gigantesca (em quantidade e qualidade, pois eram cidades altamente relevantes
as que queriam esse prêmio) que o COI chegou a impor uma “primeira fase” de
cidades concorrentes, eliminando as menos qualificadas e restringindo a escolha
da sede olímpica a quatro ou cinco finalistas. O ápice da insanidade olímpica
foi a escolha para os Jogos de 2004. Em 1997, onze cidades queriam receber a
primeira Olimpíada do Terceiro Milênio. Entre elas, o Rio de Janeiro –
eliminado na primeira seleção, com outras cinco cidades. Atenas foi a
vencedora.
Os cariocas teriam a sua
vez doze anos depois, quando foram escolhidos para receber os Jogos da XXXI
Olimpíada, em 2016. Primeiramente, qualificou-se à fase final com outras três
cidades concorrentes (Chicago, Madri e Tóquio), eliminando outras três (Baku,
Doha e Praga). Em 2 de outubro de 2009, a cidade foi escolhida, tornando-se a
primeira localidade da América do Sul (e a primeira da América Latina desde
1968) a receber o evento. Até então, sediar uma Olimpíada era a oitava
maravilha do mundo – ainda tínhamos na mente a fantástica Olimpíada de Pequim,
no ano anterior ao da escolha. Fora uns e outros problemas em Jogos anteriores
(como os problemas tecnológicos de Atlanta, os atrasos nas obras e os elefantes
brancos de Atenas e a poluição de Pequim), uma Olimpíada era vista como um
grande negócio. E o futuro era promissor, considerando que a Olimpíada seguinte
(a de Londres, em 2012) era vista como sustentável e econômica, já que o mundo
tinha acabado de passar por uma grave crise financeira.
Mas Londres, apesar da organização
elogiável, não foi tão bem no seu intento de aproveitar a estrutura provisória
de alguns locais de prova. Antes de esta Olimpíada se iniciar, o Rio se inspirou
em algumas ideias londrinas, mas até hoje não conseguiu pô-las em prática: a
transformação da Arena do Futuro (sede do handebol na Olimpíada e do golbol na
Paralimpíada) em quatro escolas públicas gorou por falta de condições
financeiras; o Parque Radical de Deodoro, sede de várias modalidades olímpicas,
ainda não abriu para a população da região, ao contrário do que era prometido
antes da Olimpíada; a Arena da Juventude, palco do basquete e do pentatlo
moderno, não mais funcionou depois do encerramento olímpico, permanecendo
fechada onze meses depois do encerramento dos Jogos. Ao mesmo tempo, para
desespero do COI, os altos gastos e custos de sediar uma Olimpíada, que vinham
se tornando maiores que eventuais bônus, começaram a causar desinteresse de
potenciais cidades em receber atletas do mundo inteiro.
Um ano depois dos Jogos
de Londres, apenas três finalistas concorreram a sede da Olimpíada de 2020.
Inicialmente, seis cidades se aplicaram a tal – mas Roma desistiu no meio do
caminho, e Baku e Doha novamente não foram aprovadas. Istambul, Madri e Tóquio
foram à fase final, e a capital japonesa – que era a grande favorita, depois de
terminar atrás apenas do Rio para 2016 – foi a vencedora. Contudo, os altos
gastos do Rio, justamente quando o Brasil vivia a mais grave crise financeira
de sua história, serviram como fonte de desinteresse para as cidades
postulantes a 2024. Das cinco cidades iniciais, três desistiram – Hamburgo,
Roma (pela segunda vez consecutiva) e Budapeste, nessa ordem. Apenas Los
Angeles e Paris ficaram no páreo. O COI temia que mais nenhuma cidade tivesse
interesse em receber os Jogos – ou, pior, apenas uma cidade quisesse receber os
Jogos de 2028 e ditasse as regras do jogo, exatamente como Los Angeles fez para
ganhar o direito sobre 1984. Com isso, ganhou força a possibilidade de as duas
cidades receberem Olimpíadas consecutivas – uma em 2024, a outra em 2028. E
essa proposta triunfou.
No momento, Paris é a
favorita para receber os Jogos da XXXIII Olimpíada e os XVII Jogos Paralímpicos,
em 2024; Los Angeles, os Jogos da XXXIV Olimpíada e os XVIII Jogos
Paralímpicos, em 2028. As duas cidades têm boas estruturas, faltando apenas
obras pontuais. Se elas não fizerem nada megalômano e tiverem responsabilidade
com o dinheiro dos seus respectivos contribuintes, terão tudo para organizar
excelentes Olimpíadas e, quem sabe, novamente despertar o interesse de várias
cidades de todo o mundo em receber o maior evento esportivo mundial.
Curiosidade histórica:
lembram quando, lá no início do texto, foi ressaltado que esta deverá ser a
terceira vez em que o COI anunciará simultaneamente as sedes de duas Olimpíadas
consecutivas? A cidade de Paris esteve envolvida em ambas: ela sediou em 1900 (foi
anunciada junto com Atenas, que recebeu os Jogos da I Olimpíada, em 1896) e
1924 (a holandesa Amsterdã foi anunciada como sede da Olimpíada seguinte, que
seria em 1928).